domingo, 23 de dezembro de 2007

Duas vidas separadas… (I)

Grosso de Malho, à esquerda, Ramalho Rijo, à direita, na actualidade, em fotografia estilizada


…pelo tempo, dois destinos, duas formas de amar… Cantava o Toy no tema daquela telenovela “Olhos de água”. Uma série em que uma actriz toda grossa (daquelas que só apetece trancar à canzana e aos uivos) conseguia o milagre da multiplicação do grelo: em vez de uma, era duas ao mesmo tempo, boas como a rata de pêlo molhadinho e morno.

Pois, duas vidas separadas. Nasci no Kuvango, Angola, tal como o Ramalho Rijo, o Tó Tiras, como o conhecia em criança. Vivíamos a três casa de distância, fomos amigos desde a mais tenra idade, afogámos o ganso pela primeira vez no mesmo dia, com a mesma mulata Natividade, que lambendo os beiços nos dizia: “Sou mulher de muitos caralhos, até vos aguentava aos dois em cima de mim”. E assim foi. Ah… que grande tarde!...

Uns anos depois, já a vida nos tinha posto muita cona pela frente, e cuzinho também, para não falar das goelas, fui viver para Techamuchete, para aí iniciar a minha actividade no Diabo do Cunene, jornal anarquista clandestino. Mas sempre arranjava tempo para me encontrar com o meu amigo Ramalho Rijo. Foram muitas cavalgadas nocturnas com gretas assanhadas, fodemos centenas, modéstia à parte, mas a idade também ajudava.

Espalhámos a semente muitos anos até que a mobilização para a guerra nos separou. Na fuga apressada para Portugal, perdemos contacto. Até recentemente, quando num jantar de ex-combatentes em Moscavide fui surpreendido por um: “Caralho, ó Minetes!” (minha alcunha de então). Era o meu amigo Rijo…

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